Sentinela da liberdade, o nosso
poder de escolher nos apazigua ou inquieta conforme seja amplo e variado ou
tímido e restrito. Mas seja lá qual for sua amplitude, essa possibilidade traz
embutida uma régua de medir nossas escolhas: É do critério que eu
trato. É ele o assunto, aqui. O critério do sim ou o do não. O critério da
ordem de chegada, da ordem crescente, ou decrescente. Da ordem alguma, mas
organizada pela afeição ou pela insignificância. Critério das cores, dos
tamanhos, das afinidades ou da aparência – pode ser do feio ou do belo, que o
critério é que define, também. O critério que opta por todos ou por nenhum.
Pelos pares, pelos ímpares ou pelos primos. Ou o critério que permite deixar de
escolher, deixar para trás, deixar pra lá. Ou acolher, compartilhar,
criteriosamente.
Saber definir nossos critérios talvez
seja um dos próprios critérios da sorte, do sucesso, da sabedoria. Uma
quantidade restrita de oportunidades de escolha pode ser enriquecida por um
critério generoso. Às Vezes, um balaio muito cheio de opções pode ser
simplificado por uma definição de critérios mais limitados. Por exemplo: Posso
não ter muita opção de escolha de lugares para viajar. Mas posso estabelecer
critérios tais que a viagem eleita permita alcançar experiências tantas, que
pareça ter sido dada uma volta ao mundo, num fim de semana. Posso ter milhares
de livros para ler, mas meus critérios podem definir que nada aquém de Saramago
me baste.
Por meu lado, espero liberalizar
os meus critérios de maneira que me permita aumentar ao infinito minhas
possibilidades. Mesmo que tenha poucas chances de escolher, resultem em intensas e amplas as vivências. Como de um só lugar da
montanha em que se abarca o horizonte imenso. Ou como um lugar no sono em que
se sonha mil vidas.
Quero o critério do ‘eu gosto’,
do ‘eu posso’ e do ‘permito’. Quero o achego, a aproximação e a inclusão. Principalmente,
quero encontrar o equilíbrio entre a minha sede de viver e a minha capacidade
de beber da fonte da vida.
Mas, mais que querer, eu preciso
estabelecer, para justificar minha liberdade, o critério que seja mais justo.