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sábado, 23 de fevereiro de 2013

Quem duvida ainda tem jeito.






A primeira camada tem a casca grossa, aparência robusta, aspereza aparente e alguma agressiva ironia. 
A segunda camada faz fronteira com árida indiferença. Um quê de insanidade, pra impor  respeito e forjar  um alo intelectual. Consegue passar por algum ridículo e tentar sair ilesa.
A próxima. deixa entrever os nervos, a impaciência e a autoexigência (a casca grossa nasce aqui).
Na quarta, raleia o sangue. Rosada como a pele exposta ao sol entre meio-dia e três da tarde. Em verões rigorosos.
A quinta é broto. Inspira cuidados especiais. Quer dizer, inspirava.
A sexta é quase um sopro. Perde o fôlego facilmente. Mas é difícil chegar lá.
Na outra, é só um pranto soluçado. Um traço de esperança.
Isso tudo são conjecturas. Nada comprovado, só achismo.
Mas quem duvida ainda tem jeito.

Imagem: http://www.etsy.com/listing/67630042/onion-peeled-original-watercolor?ref=sr_gallery_27&ga_search_query=onion&ga_view_type=gallery&ga_ship_to=BR&ga_page=7&ga_search_type=all&ga_facet=onion

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A esperança é verde?




Tinha eu, eu e mais eu...
(Assim no minúsculo porque significa muito pouco. E juntando tudo não da uma.)
Uma feita de cores diversas jogadas aleatoriamente, como num jogo de varetas – entrelaçadas ao acaso
Outra, construída criteriosamente, tijolo por tijolo, com trena, nível, pá e cimento, mas por um pedreiro incompetente.
Mais uma que se delineava – projeto – em nuvens prenunciando chuvas e trovoadas durante o período.
Cada qual ria e chorava e sofria e se comprazia, pois esse é o teor da vida, inapelável.
No trançado de todas sobressaía um agridoce de culpa e de esperança, ó inocente.
É que o verbo persistir tem um poder incrível.
De pescar a vareta, perfurar a massa e calçar a parede torta, que quiçá, não caia.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Laranjada


                                                         

Eu abandonei, por um tempo, as laranjas. Ficava com as peras tranquilas, as maçãs simples, as mexericas fáceis e os mamões descomplicados.
Até que não é muito trabalhoso partir a laranja em quatro e descolar da casca para comer. Mas quem é da velha guarda, como eu, quer é laranja descascada em tira (de preferência contínua para declamar o abecedário e descobrir o amor perfeito). A faca precisa ser muito afiada e a mão treinada, porque ferir a polpa é um fracasso lamentável. Que outro jeito para conseguir a forma perfeita para tirar a tampinha (modo simples ou “boquinha de vovó”)? Depois é só a glória de ir apertando a fruta e libertar o delicioso sumo dourado das minúsculas garrafinhas (lembranças da Chave do Tamanho - nem só de preconceito cuidava ML); plic-plic, eu fico a imaginar! Nada elegante, mas tudo de bom, dizem as modernets que sabem das coisas. Afinal, o gesto mais básico dos mamíferos entra em cena e deve despertar lembranças primais nos cérebros do terceiro milênio. Chupa e  chupa até que sobre apenas o bagaço murcho que só pode ter dois destinos: Ser jogado, no lixo ou na cabeça de algum popular torcedor da arquibancada do Mineirão – diria o Papai. Oi? Não tem mais nada disso! O Mineirão já não tem arquibancada, os torcedores agora terão que ser mais “diferenciados” porque os preços dos ingressos não serão tão populares assim e o Papai, bem... o Papai já não está mais aqui para contar seus casos.  Mas, retornando ao assunto bruscamente interrompido pelas divagações saudosistas: Ser jogado no lixo ou ser virado do avesso para desgrudar os gomos  esvaziados e mastigar o epílogo do sabor da laranja – porque é gostoso e é bom pro intestino, diziam os antigos. Mas reagi, com louvor essa semana. Aquele tempo do verbo lá em cima, agora foi transformado em “eu havia abandonado” já que, depois de afiar caprichosamente a faquinha de cabo azul, está de volta a maior chupadeira de laranja à moda antiga. Que delícia!          


Fonte da imagem: http://www.raisedurbangardens.com/                   

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Femina







Eu lhe trago essa bagagem.
Ela não é sua, mas você terá que carregá-la todos os dias da sua vida.
Também não lhe foi dada qualquer oportunidade de se manifestar a respeito.
O conteúdo não tem o seu tamanho nem suas cores prediletas, mas você terá de usá-lo e, obrigatoriamente, ficar bela .
Você cantará no meu tom, mesmo que seja soprano e eu, tenor.
Sempre ouça o que eu digo e obedeça: é o papel que eu criei para você desempenhar.
De preferência, acredite em tudo que eu estabelecer. Mas não tem problema se não acreditar. Basta obedecer.
Pense bem baixinho para eu não escutar.
Caso fale, traduza suas palavras para o meu idioma.
Você tem que olhar o tempo todo para cima e cuidar para que seus joelhos não fiquem com as manchas muito aparentes. Só o suficiente para mostrar a posição que eu exijo que você assuma.
Engome caprichosamente as rendas que envolvem seus braceletes especiais.
Não se esqueça de cronometrar seu riso e controlar o volume da sua voz. É de bom tom ser discreta.
Decore a lista dos prazeres permitidos. É fácil, já que são tão poucos. 
Não queira ser vadia e vulgar.
Não se preocupe: Isso tudo dura apenas enquanto o seu prazo de validade não tiver vencido.