sexta-feira, 9 de abril de 2010
Era Uma Vez... Três Causos
Quem conviveu com o Papai sabe da sua paixão por crianças. E da paixão delas por ele. Os iguais, às vezes, se atraem - a exceção daquela regra. Ele tinha alma de criança e o comportamento, muitíssimas vezes, acompanhava a idade espiritual. Quando ele se desentendia com alguém, ficava “de mal”. Quando queria alguma coisa, fazia pirraça. Quando algum objeto não correspondia à sua expectativa, era destruído sem misericórdia. Quando perdia no jogo, podia virar objeto de estudo de tese: “O Efeito da Pedagogia da Perda no Jardim de Infância”. Ver o Papai emburrado era um espetáculo, porque ele ficava com cara de emburrado, MESMO! Da mesma maneira, olhar para o seu rosto quando ele estava saindo para uma pescaria até contagiava a gente. Ele era transparente – para o bem e para o mal, porque ele foi exemplo perfeito do politicamente incorreto. Se havia uma coisa que ele gostava, era de contar os “foras” que as pessoas davam, inclusive os seus.
Lá em casa trabalharam algumas criaturas que fizerem a farra do Papai. Houve uma mocinha, inesquecível pela sua maneira meiga e inocente de ser: a Aletiene. Era uma fadinha e só saiu lá de casa porque se casou e foi morar no Rio de Janeiro. Um dia, a Mamãe estava usando uma legging (na época o nome era fuseau/fusô) que ela havia confeccionado num alaranjado infame! Com aqueles cambitos característicos, ficou uma maravilha! Pois quando a Aletiene viu, foi logo comentando toda animadinha:
_ Nossa, d.Olga, a senhora está parecendo aquele pássaro, a Iracema...
O Papai, literalmente, engasgou de tanto rir – porque ele, é claro, estava com a boca cheia.
Também trabalhou lá em casa, desta vez uma senhora, já “entrada em anos” muito boazinha, mas que não era muito atilada (o que explica uma permanência um pouco curta) que só chamava o Papai de ‘seu’ Roberto. Era ‘seu’ Roberto pra lá, ‘seu’ Roberto pra cá e a Mamãe sempre corrigindo:
_ D. Arminda, não é Roberto. O nome dele é Fábio.
Inutilmente.
Até que, inesperadamente, fez-se luz!
_ Puxa, descobri que o senhor chama(sic) Fábio, né, ‘seu’ Roberto?
Houve um auto intitulado pedreiro que prestou (des)serviço numa reforma da nossa casa. A escada que ele construiu tinha a característica sui generis de ter cada degrau com mania de originalidade: Uns mais largos, outros mais altos, um efeito deveras interessante! Fora o interruptor da lâmpada que decidiu ficar bem no meio da parede. A gente tinha que ir “trupicando” até a metade da escada para, então, acender a luz e assim, poder enxergar o resto da subida. Para o Fabinho, que, vez por outra(!), tomava ‘aquelas a mais’, deve ter deixado um baita trauma. Adiantava o Papai reclamar? A resposta do dito cujo era sempre a mesma:
_ Tem “pograma” não, seu Fábio, nós conserta.
Se a casa não tiver sido demolida, deve dar raiva, até hoje, em quem mora lá.
Foto: Acervo pessoal.
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