domingo, 17 de outubro de 2010
Quero a simplicidade
Nesses dias de tantas informações e sofisticados dilemas. Numa era marcada por tecnologia de ponta, avanços científicos e na qual o tecido é inteligente mas desaprendemos que o vestir é mais do que seguir a moda. Quando salgadinho de milho tem sabor artificial de churrasco, é mais do que a carne que é fraca. De repente a gente descobre que decorou as senhas de três cartões de crédito e de seis sites mas que não sabe mais nenhuma poesia. Nos arrepiamos por saber que nossos filhos já discutem sobre sexo, drogas e rock'n roll e acham que brincar de roda é a coisa mais besta do mundo. Já tem carro que estaciona sozinho e tem gente que põe a banheira da "hidro" para encher de água à 38 graus, pelo controle remoto. Descobrimos que os alimentos funcionais funcionam e o botox rejuvenesce 20 anos em 30 minutos. Mesmo que as viagens espaciais já são quase uma rotina e que o primeiro bebê de proveta já não é confiável porque tem mais de 30 anos, o que eu quero mesmo é a simplicidade.
Quero de volta o meu céu estrelado de verdade e não ofuscado por milhões e milhões de lâmpadas de vapor de sódio. Quero o vestido de algodão fresquinho. Quero as jabuticabas colhidas na hora, logo depois da chuva, e engolindo as três primeiras com casca, para não entupir. Prefiro o meu chá quentinho em vez do antibiótico. Cadê as serenatas? E os assovios chamando nas ruas para a reunião da turma? Acho preciosa a fotografia amarelada, com dedicatória escrita naquelas letras lindas, com caneta tinteiro. Aliás, amo as fotos antigas que me contam histórias secretas, cheias de emoção e esperança. Me deitar em lençóis branquinhos, cheirando a alfazema. Quanta expectativa num copo de água que tem mergulhada uma bolinha de massa de pão! Ninguém me impeça de pisar nas folhas secas, crocantes. Me desafiem com um novelo de lã embaraçado. E me contem de heroísmo, de crianças aprendendo a falar, do nascimento de gatinhos ou cachorrinhos e piadas de papagaio. Quero o sol sem câncer, o passeio a pé e a água pura. Alguém me diga que a blusa bordada com linha de seda foi "vovó quem fez"! Quero ver a criança com o joelho ralado pedindo para soprar. Não me importa saber que o soluço é uma reação do diafragma: quero é colar, com cuspe, um pedacinho de papel na testa do bebê. Me convidem para ver o pôr do sol entre dois morros, como os desenhos de antigamente. Acima de tudo, me falem da confiança. Me prometam que os sentimentos ainda perduram.
Me garantam que a amizade e o afeto são a maior novidade do pedaço.
A foto, eu tirei daqui: http://www.desiretoinspire.net/
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