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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Aprendendo a Ganhar


Pois é...
Depois de um textinho um tanto quanto pretencioso (o Frederico disse "um saco") do último post, vamos a um português mais "segunda à sexta-feira" e falar de um assunto bobo, chato e feio: Idade e trabalho.
Nem todo mundo sabe, mas depois muitos anos em uma empresa, fui demitida quando retornava de um longo afastamento por causa de um acidente doméstico. Sem julgamentos, aqui. A questão é que depois de uma certa idade a recolocação profissional pode se transformar em drama. Pode, não.Vira mesmo!
De repente, com minha capacidade inteiraça, gás total e necessidade bombando fui sendo defenestrada de empregos cada vez mais medíocres com salários cada vez mais...menos, digamos. Eu não pulava de um emprego para outro. Eu caía de um lugar para o outro, carregando frustração e ainda sorteada com humilhações. Podem crer que não é bolinho ser demitida, ser chamada de incompetente por não me adequar a uma linha de produção à la Tempos Modernos em que o lema é "produza mais e pense o mínimo" e para qual fui contratada para vender rolamentos e o único produto que não havia em estoque era... rolamento!
Isso deixa marcas. Ainda mais em uma pele que, se ainda não virou pergaminho, já perdeu o viço dos 20 aninhos, ora se perdeu!
Para conseguir recolher os caquinhos do orgulho dispersos aqui e ali, olhar para o marido, filhos e outros familiares sem pestanejar e tentar convecer a alma de que você ainda tem remédio é preciso muuuita força! Usando uma expressão bem batidinha, a gente se sente o próprio bagaço de uma fruta.
Que mercado de trabalho é esse? Que sociedade é essa que discrimina o velho? Mesmo o velho que nem é tão velho assim? Que falta de respeito é essa que descarta uma bagagem inteira de experiência, vivência e capacidade? Que molde está sendo feito para nos enquadrarmos e que fica obsoleto tão rápido? Quem é que determina que invejáveis são os heróis feitos de carne malhada e silicone que lagarteiam e "jogam com tanta competência" sob dezenas de câmeras e milhões de telespectadores? Como descartar quarentões, cinquentões e outros "ões" disponíveis, dispostos e capazes, não de ganhar a vida, mas de trabalhar e contribuir para a sociedade?
Hoje, mesmo que financeiramente não esteja lá essas coisas, a auto estima está íntegra e invejável a disposição. Não é sacrifício algum, pelo contrário, sair para o trabalho diariamente e perceber quanta coisa está sendo e ainda mais pode ser feita. E planejar a carreira e ter voltado a estudar, e ser requisitada para mais e mais contribuições, e ser admirada pela família, respeitada pelos colegas e elogiada pelas pessoas a quem sirvo... é para agarrar com as duas mãos (mais, se tivesse) e tentar fazer sempre melhor.
Eu não sou a única. Quantos esperam uma chance! Inúmeros são os que se afundam em desesperança e acabam por submeter-se a uma vida(?) insatisfatória e deprimente.
A idade não incapacita, apenas exige adaptações. O mundo é tão vasto, disse o Poeta, e inúmeras deveriam ser as oportunidades. Infinitas podem ser as portas por onde entrem os que querem e precisam trabalhar.
O tempo faz apenas trocas: perde-se um grau nos olhos e ganha-se quilos de sensibilidade. Adquire-se algumas rugas enquanto diminui a ignorância. É a balança da vida.
Só fica no prejuízo mesmo, quem desistiu de ter fé no ser humano.

Imagem: http://quiprona.wordpress.com/2009/06/20/momento-poetico-e-filosofico/

2 comentários:

  1. Olá Flavia!
    Muito obrigada pela visita lá no Chá de Baunilha e mais ainda pelo lindo comentário que me escreveu! Fiquei muito feliz ao ler suas palavras!
    Vou espiar seu blog mais um pouquinho!
    Beijos!! Bela

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