quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Disse o Nário
O Papai conviveu com muita gente. Ele foi um ser gregário. Gregaríssimo, caso exista essa palavra. Falando em palavra, ele vivia de palavras. Não como políticos. Não como pregadores. Não como professores.
Em primeiro lugar, no seu trabalho, que era moldar palavras em frágeis transparências. Maneira pseudo-poética de falar que ele trabalhava fazendo placas em neon. Pegava tubos de vidro e com fogo, paciência e perícia ia “escrevendo” as palavras para depois rechear com gás, que iluminava e dava cor. Arte quase extinta, que o digam o Fabinho e o tio Maurício.
Em segundo lugar, contar seus casos e suas piadas era uma outra face da sua vida. A mais prazerosa, acredito. E suas palavras eram simples. E ele não era nenhum Olavo Bilac, se é que me entendem. Ele lia muito, tinha uma cultura acima da média, mas nunca deixou de falar corativo, táuba e tóchico quando queria dizer curativo, tábua e tóxico.
Em terceiro lugar, ele criou um código, ou adaptou um código, sei lá. Só sei que quem escutava algumas de suas (e depois, nossas) frases achava que estava em outro país.
Um dia, um conhecido de bar, reclamou:
_ Nessas lojas de Belo Horizonte a gente só acha roupa tamanho pigneu!
Pronto. Desse dia em diante, tudo que fosse pequeno, baixinho, deixou de ser pigmeu. E a gente tinha que contar o porquê disso. Tinha que sair com aspas na bolsa para explicar a ironia.
Outra, dessa vez na Neon Lux ou Neon Tunes, não tenho certeza. O Papai falou
_ O desenho da placa é em formato de losango.
Um funcionário “esperto”:
_ Você quer dizer Losângulo, capital dos Estados Unidos.
Sem falar no Osório. Osório era um empregado na Neon Tunes que era aleijado - antes dos politicamente corretos deficiente físico ou pessoa com necessidades especiais. Pois então, tudo que era torto, deformado, defeituoso, virou osório. O substantivo virou adjetivo:
_ Essa roupa está toda osória.
_ Que desenho osório é esse!
E para finalizar, um amigo de infância foi explicar por que seu apelido era Tiú:
_ Meu nome é Washington, mas a minha mãe não conseguia pronunciar. Então, quando me chamava para ir para casa, ela gritava: - Ostiúúúúú!!!!!!!
Foi assim, que a “outra” capital dos Estados Unidos ficou sendo Tiú, também.
Foto: Acervo pessoal.
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Esqueceu do "torquinete", "bicicletero", essas tb faziam parte do vocabulário que herdamos dele!!!!
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