Não desprezo Deus.
Desprezo aqueles que se apoderaram dEle e transformaram-nO
em um ser vaidoso, cruel e vingativo.
Não desgosto de Deus. Desgosto de quem resolveu colocar
palavras de ódio na Sua boca. Aliás, quem resolveu dar-lhE uma boca e ousou limitar
a grandiosidade e o indefinível em uma dimensão tão estreita.
Renego a apropriação de um "modelo", diante de uma
infinidade de criações e criaturas.
Ele é a liberdade, a imensurável diversidade.
Prenderam-nO em livros, pergaminhos, tábuas e em imagens.
Deram-Lhe uma visão cercada das traves dos olhos,
imperfeitos e parciais, dos humanos que arrogaram-se em representantes de
profetas. Porque os iluminados que aqueles/estes declararam representar, não
escreveram uma palavra. Não me consta que Jesus, Buda ou Maomé fossem analfabetos e não tivessem
capacidade para registrar seus pensamentos e ensinamentos. Ao quererem que
seguissem seus exemplos, talvez o primeiro exemplo fosse não escrever ou deixar
escritos, exatamente porque não lhes interessava impor leis nem se apropriar de
poder.
Realmente, nem penso que os livros são um erro. O erro é querer
impor interpretações pessoais desses escritos como regras ditadas por Deus.
Do átomo às galáxias, Deus está além da compreensão. Querer
impor-Lhe limites e definições é o ato máximo de soberba e mesquinhez.
Como foram e são mesquinhos os que julgaram, e julgam, poder
traduzir as intenções da Perfeição. Que ousadia e que atrevimento querer
conhecer o âmago do Imponderável!
Lancem fora suas mãos, olhos e línguas antes de quererem se
apoderar do Infinito. Não conspurquem a Natureza com sua pequenez. E não
queiram contaminar o amor com sua visão pobre e falha de empatia.
Não venham dizer que a fé justifica o autoritarismo e a
arrogância. Porque a fé que tanto declaram não é fé em Deus. Mas fé em humanos
que lhes disseram em que acreditar.
Humanos presunçosos, cheios de cobiça e sedentos de poder.
Não desdenho da fé. Desdenho da imposição do modelo de fé.
Respeito a credulidade. Até dos que creem que não têm fé.
Espero e exijo que respeitem a minha. Ela está aí, acima, mas é muito mais que isso.
Existir é um ato de fé. O vírus é um ato do poder existir e
não há vírus errado. Os vírus não podem ser amaldiçoados. São a tradução de um
poder operando em sua imanência. Seres humanos existem e suas individualidades
não podem ser amaldiçoadas ou negadas. Aliás, o que é maldição? Mal dizer.
Disseram que Deus era o verbo. O Verbo cria e a criação do Perfeito é uma
bênção. O verbo perfeito é: existir. Que é, porque é. E só se cumpre se for.
Então, deixem em paz criaturas que têm em comum algumas
condições, necessidades, características e comportamentos. Claro que há modos
diferentes de vivenciar cada uma delas mas, o que me interessa abordar, agora,
é mais ou menos isso:
Heterossexuais:
Nascem, respiram, crescem, estudam, riem, cansam, sofrem,
sangram, esperam, conquistam, choram, fracassam, comem, viajam, perdoam,
julgam, envelhecem, transam com parceiros de outro sexo, praticam esportes,
comunicam, dormem, acreditam, desanimam, escolhem, morrem.
Homossexuais:
Nascem, respiram, crescem, estudam, riem, cansam, sofrem,
sangram, esperam, conquistam, choram, fracassam, comem, viajam, perdoam,
julgam, envelhecem, transam com parceiros do mesmo sexo, praticam esportes,
comunicam, dormem, acreditam, desanimam, escolhem, morrem.
Mesmo com tantos aspectos que definem e formam a
individualidade das pessoas, há quem insista em desqualificar e
discriminar outras pessoas, baseados exclusivamente em sua maneira de exercer
sua sexualidade, ou seja, "com quem fazem sexo". É dar importância
demais ao sexo, não? Aí, me pergunto: quem é que obcecado por sexo,
mesmo? Quem consegue supervalorizar um comportamento e uma das necessidades
básicas dos seres (no caso, humanos), ignorando todo o resto, a ponto de tentar
impedir direitos e mesmo ameaçar vidas? Quem quer amaldiçoar a criação do
próprio Deus que adoram, apontar o dedo e definir: pervertidos? Se acreditam
que homossexualidade é pecado, não pequem. Não venham tentar impor suas crenças
a outrem. Principalmente, não queiram se apoderar da prerrogativa do Deus, no qual acreditam,
vestir Sua toga e julgar, antecipadamente, o "irmão". Deveriam crer
que seu Deus é capaz o bastante para esperar o Juízo Final para fazer isso sem
qualquer interferência e antecipando a decisão divina.
Fiquem fora da fé, das leis e da cama alheias.
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