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terça-feira, 4 de maio de 2010

Ele ia Adorar!




Há pessoas que estão à frente do seu tempo. Há pessoas que fazem o próprio tempo, ou melhor, são referência do seu tempo. Eu acho que estou perdida em algum lugar, no vácuo: nem lá, nem cá. Fico pulando de um galho pro outro. Corro lá na frente e tento acompanhar a rapidez da tecnologia. Corro pra cá, tentando agarrar o passado e fazer com que ele perdure mais um pouco. Entre um lugar, um lapso de tempo e outro, pareço uma borboleta... Quero extrair o alegre e o doce de tudo, que de amargura, bastam as notícias nos jornais diariamente.
Eu trabalho em uma escola da rede municipal de Belo Horizonte. Se eu contar que é na biblioteca, por favor, não pensem que é o meu paraíso. Poderia até ser, se o paraíso pagasse bem. E nessa escola, que fica em uma região muito carente, acontecem certas coisas que, tenho certeza, o Papai adoraria ouvir.

Um dia desses, uma das professoras contou que foi substituir a colega que ensina Português e que havia faltado. Resolveu pedir, como atividade, que os alunos produzissem um texto em que a primeira frase fosse: “Era uma vez...”
Foi o que ela pediu:
- Era uma vez, três pontinhos.
Então, um dos alunos, imediatamente reclamou:
- Professora, não vai dar não. A nossa professora ainda não ensinou isso. Ela só ensinou até os dois pontos (:), não chegou nos três, ainda não.

Mais um?

Com a preguiça que a maioria dos estudantes tem de ler, para eles a espessura dos livros - ou a finura – é a principal característica que define a escolha do livro. Quando alguma professora vai fazer um trabalho e, é sério, obriga os alunos a ler, a primeira coisa que eles perguntam é: Quantas páginas? Ela já tem a resposta na ponta da língua, é claro. Por isso, é muito comum alunos chegarem à biblioteca e dispararem:

- Eu preciso de um livro pra ler.
- Qual livro você quer?
- O de 78 páginas...
Já imaginou classificar os livros nas estantes por número de páginas?

Ta pouco?

Um dos livros que as professoras gostam muito de indicar para os alunos lerem é O Menino do Portinari, de Caio Riter.
Pois bem, já chegaram várias crianças lá na biblioteca pedindo:
- Eu quero pegar O Menino da Porteirinha.!

E isso?

Hoje em dia, o Aurélio já não está com aquele Ibope todo, não. O dicionário mais popular da escola é o Houaiss. Pois eu já pensei em abrir uma lojinha de balas de tanto ouvir:

- A professora pediu para a senhora mandar dez Halls.


Por hoje, é só. Mas tem muito mais que eu ainda vou contar...

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