terça-feira, 11 de maio de 2010
Muito poderoso!
O que me inspirou a escrever nesse espaço foram as histórias do Papai. O receio que eu tenho, com razão, de que acabem sendo esquecidas e com elas uma boa parte da essência do que ele foi. É claro que eu acabo contando outras coisas e dando uns pitacos em assuntos que nem são muito da minha conta... Porém, uma das coisas que eu descobri, escrevendo, é que é muito bom escapulir, de vez em quando, das obrigações e "deveres" para dar uma respirada profunda e deixar a mente vagabundear e ir pescando pedacinhos de lembranças, cheiros muito sutis, sabores quase apagados, trazer tudo à tona e dar uma reforçada neles. Sabe aquelas manutenções que a gente faz nos móveis, aqueles remendos nas roupas, uma pinturinha nas cercas, um anil na roupa branca,um polimento nas panelas ou nos cristais (quando a gente tem)? É por aí. Tudo isso é coisa que nem se faz mais. Pra variar, vou desenterrando uns costumes... já faz parte do meu DNA e ainda dizem que a moda agora é vintage!
Foi escarafunchando os miolos que me lembrei de mais algumas manias do Fabão. Os netos foram para ele um prazer e uma alegria que só vendo! Ele se deixou envolver pela experiência como um palito pelo algodão-doce. E como ele era muito criativo, o que inventava para entreter a turma, era de arrepiar. Muita coisa que ele queria ter tido quando criança ele fez para os pequenos... se esquecendo, óbvio, que antes de ser "legal", o brinquedo tem de ser seguro. O Papai fazia espadas com pedaços de ferro (que ele afiava no esmeril), arcos com as flechas de pontas tão afiadas que podiam ser usadas até como espeto de churrasco, brinquedinhos com motor de ventilador (uma beleza pros meninos deceparem os dedos!) ou então cheios de pecinhas no jeito para serem engolidas ou enfiadas nos narizes e orelhas.
E os bolsos? Os bolsos da bermudas (já que raramente usava camisa) viviam cheios de balas e pirulitos e chocolates. Os meninos nem precisavam pedir. Quando chegava perto da hora do almoço ou jantar, ele sempre "descobria" uma guloseima para agradar. Se a gente reclamasse, ele ainda achava ruim:
- Deixa de ser implicante. Coitado(a) do(a) menino(a)!
Conosco, os filhos, ele também já aprontava das suas. Fazia pé-de-gigante com latas: Podiam se de óleo, de cera, ou qualquer outra, quanto mais altas, melhor. Furava o fundo da lata no meio, enfiava um barbante bem forte que amarrava num prego por dentro. Então, nós subíamos nas latas emborcadas, o barbante encaixado entre os dedos dos pés (como calçando um chinelo) e seguro pela outra ponta, ficávamos andando e/ou correndo até levar tanto tombo que a Mamãe ia lá, tomava os brinquedos e jogava tudo no lixo! Quando nós íamos soltar bolhas de sabão, o canudo não era de talo de mamão, não. Era de vidro bem fininho e bem quebrável, mesmo! Ele ainda ensinava a encher as bolhas com fumaça de cigarro. detalhe: ele não fumava, detestava cigarro, mas surrupiava um da Mamãe para fazer gracinha.
Quando a gente machucava, ele lavava o machucado e punha merthiolate? Não! Ele chamava o cachorro para lamber: sarava mais rápido e não ardia!
Nosso anjo da guarda mandou muito bem!
Ilustração, tirei daqui: (http://artpassions.com/artists/raphael-raffaellorafael-sanzio/)
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