Aqui não é conto de fadas.
Ninguém acredita que, entre a última badalada de 2015 e a
primeira de 2016, uma magia acontecerá e o príncipe aparecerá, a bolsa se
encherá de moedas de ouro, a neve derreterá para libertar o pé da formiguinha,
a poção mágica recuperará a saúde, os inimigos se abraçarão comovidos e o
tapete voador estacionará a alguns centímetros.
Não.
Não somos tão inocentes.
Mas nos preparamos tanto pra esse momento!
Acho que é porque, talvez, em algum meandro que nem Freud
descobriu, lá, dentro do ovo, dentro da caixinha, dentro do baú, dentro da
concha, no fundo do mar, protegida pelo maior dragão já existido, fica a vela
da esperança. Que não é esperança da magia, mas a esperança da força de cada
um. De resistir ao que nos opõe e
superar nossos desafios. Nos empurrar ao primeiro passo para o esforço de nos
transformarmos no que gostaríamos de ser, desde que não aniquile o que já
somos. A nossa essência. Sermos menos carrascos de nós mesmos e nos darmos a chance
de sermos amados sem subterfúgios. Não precisarmos esconder nosso afeto e não
despejarmos nos outros as nossas frustrações e dores. Conseguirmos enxergar nossa mesquinhez para
podermos combate-la. E aceitar a mão de outra pessoa sem pensar que é
humilhante. Termos ousadia de viver autenticamente, sem a tutela de outros.
Confiar na nossa bondade sem precisarmos de ordens.
Inventamos o Tempo para nos darmos a chance de um recomeço.
Um marco para nos colocarmos diante dos nossos insucessos e vislumbramos a
oportunidade de corrigir o rumo. Pode ser que este seja um dos poucos momentos
em que estamos, realmente, conscientes do Presente. E, como não poderia deixar
de ser, desejando mais.
Ah, humanos!
Tão diferentes e tão iguais! Espero que a igualdade nos
permita a união. E que as diferenças nos permitam a adaptação. Projetarmos um
futuro e vivermos o agora, porque a outra badalada pode não acontecer.
Feliz ano novo. Felizes novos nós.
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