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segunda-feira, 26 de abril de 2010

Peças do Quebra-Cabeças




Uma imagem muito comum, uma comparação muito simplista. Mas é o que me vem à mente para relacionar pessoas, acontecimentos e lugares com a construção da minha vida e da minha personalidade: Um quebra-cabeça montado ininterruptamente, uma obra interminável.
Hoje mesmo eu recebi uma impagável contribuição do Beto Magalhães.
Esse espaço vai ficar mais rico e alegre. E a cada dia minha história recebe acréscimos. A minha história é nossa história.
Hoje quero contar sobre uma inspiração infantil. Ela foi emprestada, na verdade. Numa das postagens anteriores eu mencionei que a Mamãe trabalhou numa pesquisa para uma 'estrangeira'. Uma maneira meio fria de apresentar alguém. Ela está nessa foto aí em cima: Tem um pedacinho de mim, a Mamãe, o Papai, a Mariana e sua filhinha, Samantha.
O nome correto é Marianne, mas desde que a conhecemos, ela o abrasileirou. Isso, para mim, significa simplicidade. Ela deixou marcas desse jeito natural de viver. Enquanto fazia estudos para sua tese de doutorado ela vivia entre Belo Horizonte, os Estados Unidos e a Amazônia (o Fabinho achava que ela era uma espiã). Trouxe seus pais, seu marido e muitos amigos para conhecer um país que ela apreciava e pessoas de quem ela gostava. Foram muitos anos de convivência, interrompida por ausências, nunca por esquecimento. Ela e a Mamãe se admiravam profundamente. Todos lá de casa gostávamos da Mariana. Mas eu a tomei como modelo. Uma mulher linda e delicada, forte e perseverante, inteligente e independente, corajosa e generosa. Tudo que eu queria de ser.
Nós morávamos em um barracão que ficava bem no fundo de um lote enorme. Não havia campainha e havia cachorro. Quem quisesse entrar tinha que gritar do portão. Ela tentava nos surpreender e mudava a voz para chamar. Nós íamos correndo:
- É a Mariana!
Ela ficava indignada (seu português era, quase sempre, perfeito):
- Como é que vocês souberam?
- Você é a única pessoa que chama a Mamãe de "Ôlguinha".



A Mamãe costurava roupas para a Mariana, fazia almoços para os seus amigos que vinham conhecer o Brasil e também era a sua cabeleireira. Seus cabelos eram enormes e lindos e eu quase chorei na primeira vez que a Mamãe os cortou. Aliás, eu guardo até hoje esse "souvenir".
Ela achava graça do meu gosto musical. Ela cantava Beatles. Gostaria que tivesse ido comigo e com a Giovana para ver o Hocus Pocus.
Já faz quase trinta anos que não a vejo. Meu respeito e carinho por ela continuam intactos. Também me lembro de uma historinha engraçada:
Quando eram crianças, a Mariana e sua irmã ficaram bravas com os pais e, num gesto dramático de rebeldia, fugiram de casa. Foi bem cansativo, ela contou. Ficaram muito tempo dando voltas no quarteirão. É que as fujonas não tinham autorização para atravessar a rua sozinhas!

Fotos: Acervo pessoal.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Apelou, Perdeu!



Quando eu era pequenininha, o Papai costumava me chamar de "Bava". Era uma mistura do jeito que eu pronunciava meu nome, quando estava aprendendo a falar e porque eu era meio "irritadiça", digamos. Tempos depois, lá em casa, adolescente ou já adulta, me chamavam de "Nervosinha" ou "Bravinha". Muitos (põe muitos nisso) tempos depois, ou melhor, hoje em dia, o termo que me chamam é "Estressadinha". Eu fico um tanto quanto surpresa pelo espanto que isso provoca. Como poderia ser diferente? Exemplos?

A minha avó Geni, que quem leu o post dedicado a ela já conheceu um pouco, era exigente ao extremo. Quando ela fazia suas famosas e deliciosas roscas, ou pães, ou biscoitos ou bolos, ou seja lá o que fosse, que ela não considerasse, pelo menos, perfeito, as pobres quitandas (como se dizia na época) eram jogadas no quintal (chamado, terreiro) com formas, tabuleiros e Cia.Ltda. O meu avô, com toda a paciência ia lá catar o vasilhame, até a tempestade acalmar.

O Papai , dentre outras coisas, apelava que era uma beleza! Houve numa ocasião, em Glaura, uma gincana. Foi simplesmente sensacional e mesmo quando eu for bem velhinha, de bengala e aparelho para surdez, vou me lembrar com saudade. As equipes estavam muito entusiasmadas e o Papai se superou. Quem assistiu a apresentação da Branca de Neve, teve dor de barriga de tanto rir. Mas numa das provas mais disputadas, um concurso do melhor assovio, não sei como o Papai não mutilou as próprias mãos. Teve imitação de passarinho. O Alexandre (Alemão), assoviou o tema "A Ponte do Rio Kwai", o Reinaldo (Boca) assoviou também um tema muito bonito que eu não consigo me lembrar qual e acabou ganhando os pontos. E o Papai... Bem, o Papai tinha um assovio muito peculiar que ele fazia juntando as duas mãos em concha, unindo os polegares como um bocal e quando soprava, fazia uma vibração com os outros dedos. Ele era craque, até então. Naquela hora, o barulho não saía de jeito nenhum! Ele tentou, arfou, avermelhou, foi um fiasco! E aí, ele apelou. A raiva dele eu não vou esquecer nem quando for velhinha, de begala(...), etc.

Em uma das pescarias que o Papai foi, com os sobrinhos, os filhos da tia Walquíria, eles estavam num barco (não é repeteco, não - a do Juca eu já contei). De repente um deles viu uma cobra enorme (ou seria um jacaré? Sei lá) e o Rogério pegou rápido um revólver que tinha levado e começou a tentar a atirar no bicho. Porque a arma não funcionava. Ficava só mascando e tiro que era bom, nada! Ele pegava o revólver e sacudia, tremia e virava para tudo que era lado e gritava, possesso:
- Eu só não jogo essa m*rda fora porque é minha!
E o Papai, apavorado tentando, sem cair na água, sair da frente:
- Vira esse troço prá lá, pô!

Tá certo que eu poderia fazer iôga ou meditação. Mas com um pedigree desses, será que ia adiantar?


Vídeo:(http://www.youtube.com/watch?v=CB8F8g1-4Uw)

terça-feira, 20 de abril de 2010

Meu Primeiro Herói






Meu tempo anda meio escorregadio, esse ingrato. Quando eu assusto, os minutos passaram, as horas se foram, os dias desapareceram e o blog ficou "abandonadinho da silva". Mas como dizia aquele que inspirou esse espaço:

- Se vira, você não é quadrada!

É por isso que eu vim aqui fingir que não tem nada esperando para ser feito. O que importa é contar como passamos, eu, a Adriana, o Fabinho e a Mamãe, muitas noites envolvidos na magia do dom do Papai: ouvindo as histórias emocionantes que ele contava.
Ele era nosso livro, nosso cinema, nosso Gibi. A cama, não sei como, cabia todo mundo. Todos embolados e eletrizados. O Papai conseguia criar o clima perfeito. Contava em capítulos, herança das seções dos seriados da sua infância, no Cine Floresta.







Ele contava os detalhes.Descrevia a floresta (nesse caso, da África, mesmo), os animas, seus "barulhos", as pausas para que a gente sentisse o perigo rondando. Foi assim que conheci o Tarzan dos Macacos; Kala, sua mãe de criação; Numa, o Leão; Kerchak, o gorila; Sheeta, a pantera e Tantor, o elefante. No princípio, o Papai até foi fiel ao Edgar Rice Burroughs. Mas quando não havia mais da história original, ele viajava: misturava a selva com discos voadores, crocodilos com ETs, fazia a nossa festa e multiplicava a nossa expectativa. Quando o sono começava a vencer a luta contra o mal, o Papai interrompia o capítulo e carregava um por um para sua própria cama.Foi assim que eu comecei a admirar os animais, a ter respeito à natureza, a me encantar com as aventuras. Foi a necessidade de saber mais e mais histórias que me ensinou a ler.
O Tarzan foi o meu primeiro herói. Mas não foi o único.
Precisa falar o nome do maior deles?




Foto 1, tirei daqui: (http://us.macmillan.com/tarzanoftheapes)
Foto 2, tirei daqui: (http://www.vmcinebrasil.com.br/cine/seculo20.php)
Foto 3, acervo pessoal.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Confessione




Eu e o Papai éramos meio comparsas. Às vezes, não era preciso nem falar nada. Um olhar bastava para nos entendermos, principalmente em se tratando de ironia.
Agora a confissão: Eu tinha (tenho, ainda, mas parece que a maturidade andou espaçando mais as crises) ataques de riso. Eu sei. É ridículo. É lamentável. É constrangedor. Mas é verdade. Começa com risos curtinhos. Tentativa de segurar. Pequenas explosões de barulhos que escapam da boca. Lágrimas, muitas lágrimas. O rosto se colore de um tom roxo-avermelhado (ou vermelho-arroxeado - é difícil definir). Engasgos, tosses, um espetáculo deplorável. Dizem que é um traço de histeria. Tenho que perguntar ao meu psiquiatra!
Para quê tudo isso?
Para contar da vez que, por minha culpa e do Papai, quase que o Léo, meu marido, perde um grande amigo.
Quando a Isabela e o Frederico nasceram, um dos melhores amigos do Léo, o Marquinhos, foi nos visitar e levou consigo a nova namorada e a irmã da nova namorada. Elogios mil ao pimpolhos, desejos de felicidade, saúde, etc. etc., fomos para a mesa - finalmente, para a alegria do Papai. Muitos casos, conversas e blablablá, o Papai reclamou que a namorada e a irmã da namorada deveriam ter nome, mas ele não sabia:

- Meu nome é Marilaide e o da minha irmã é Marleide.

O Papai, tenho certeza que foi sem querer, disse de um jeito que eu queria ter gravado:

_ Putz, parece nome de pronta entrega!

E, aí, ele olhou para mim! Foi o maior erro.
Eu tentei segurar. Dou a minha palavra! Mas foi acima das minhas forças. E eu contaminei o Papai. Eu nunca tinha visto ELE ter ataque de riso! Eu saí da mesa, fui ao banheiro, lavei o rosto, respirei fundo muitas e muitas vezes, mas quando voltei para a mesa, começou tudo de novo. Eu não podia olhar pro Papai e nem ele para mim. Era incontrolável. Nem sei como acabou o ataque. Acho que a vergonha bloqueou meu cérebro.
Foi uma das maiores grosserias que nós já fizemos.

E.T.: O Marquinhos, que havia sido convidado para ser padrinho da Isabela, sumiu. A Isabela é afilhada do Fabinho.

Foto: Acervo pessoal.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

É a Pura Verdade!






Foto: Acervo pessoal.
Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=MTpDo6SWEy0

Era Uma Vez... Três Causos




Quem conviveu com o Papai sabe da sua paixão por crianças. E da paixão delas por ele. Os iguais, às vezes, se atraem - a exceção daquela regra. Ele tinha alma de criança e o comportamento, muitíssimas vezes, acompanhava a idade espiritual. Quando ele se desentendia com alguém, ficava “de mal”. Quando queria alguma coisa, fazia pirraça. Quando algum objeto não correspondia à sua expectativa, era destruído sem misericórdia. Quando perdia no jogo, podia virar objeto de estudo de tese: “O Efeito da Pedagogia da Perda no Jardim de Infância”. Ver o Papai emburrado era um espetáculo, porque ele ficava com cara de emburrado, MESMO! Da mesma maneira, olhar para o seu rosto quando ele estava saindo para uma pescaria até contagiava a gente. Ele era transparente – para o bem e para o mal, porque ele foi exemplo perfeito do politicamente incorreto. Se havia uma coisa que ele gostava, era de contar os “foras” que as pessoas davam, inclusive os seus.
Lá em casa trabalharam algumas criaturas que fizerem a farra do Papai. Houve uma mocinha, inesquecível pela sua maneira meiga e inocente de ser: a Aletiene. Era uma fadinha e só saiu lá de casa porque se casou e foi morar no Rio de Janeiro. Um dia, a Mamãe estava usando uma legging (na época o nome era fuseau/fusô) que ela havia confeccionado num alaranjado infame! Com aqueles cambitos característicos, ficou uma maravilha! Pois quando a Aletiene viu, foi logo comentando toda animadinha:
_ Nossa, d.Olga, a senhora está parecendo aquele pássaro, a Iracema...
O Papai, literalmente, engasgou de tanto rir – porque ele, é claro, estava com a boca cheia.

Também trabalhou lá em casa, desta vez uma senhora, já “entrada em anos” muito boazinha, mas que não era muito atilada (o que explica uma permanência um pouco curta) que só chamava o Papai de ‘seu’ Roberto. Era ‘seu’ Roberto pra lá, ‘seu’ Roberto pra cá e a Mamãe sempre corrigindo:
_ D. Arminda, não é Roberto. O nome dele é Fábio.
Inutilmente.
Até que, inesperadamente, fez-se luz!
_ Puxa, descobri que o senhor chama(sic) Fábio, né, ‘seu’ Roberto?

Houve um auto intitulado pedreiro que prestou (des)serviço numa reforma da nossa casa. A escada que ele construiu tinha a característica sui generis de ter cada degrau com mania de originalidade: Uns mais largos, outros mais altos, um efeito deveras interessante! Fora o interruptor da lâmpada que decidiu ficar bem no meio da parede. A gente tinha que ir “trupicando” até a metade da escada para, então, acender a luz e assim, poder enxergar o resto da subida. Para o Fabinho, que, vez por outra(!), tomava ‘aquelas a mais’, deve ter deixado um baita trauma. Adiantava o Papai reclamar? A resposta do dito cujo era sempre a mesma:
_ Tem “pograma” não, seu Fábio, nós conserta.

Se a casa não tiver sido demolida, deve dar raiva, até hoje, em quem mora lá.

Foto: Acervo pessoal.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Fábio ataca novamente!




Essa foto aí em cima mostra o Papai e a Mamãe no bar do 'Seu Carlos', lá no Barreiro. Foi um dos bares que ele mais frequentou. Dá pra ver o "à vontade" que ele ficava? Dá pra ver que ele estava querendo derramar a cerveja na cabeça do "colega"? E dá pra ver uma plaquinha, torta, à esquerda da cabeça do Papai? Essa plaquinha, foi ele quem fez. Nela estava escrito: É PROIBIDO ENTRAR BÊBADO NESSE BAR. SAIR, PODE.

Ele tinha as suas frases de efeito. O próprio nome desse blog é uma delas. Toda vez que alguém oferecia qualquer coisa para ele comer - ou beber - ele fazia uma cara indescritível e falava:

- Aff, Maria, só se for com queijo!

Quando ele ia dormir, espreguiçava, fingia um bocejo e soltava:

- É, já que ninguém me tira pra dançar... vou dar uma ca**dinha e vou dormir!

Também, quando ia se despedir, ele sempre desejava:

- Feliz Natal e uma Quaresma cheia de fantasma!

Já que a quaresma tá terminando mesmo...

Foto: Acervo pessoal.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Vovó Geni



Na minha infância, naquela longínqua era, tive a felicidade de conviver com os verdadeiros modelos do que hoje é só estereótipo: Vovó.
Hoje vou contar da minha avó Geni.
A legítima vovó que fazia crochê, contava histórias de assombração e preparava as roscas mais deliciosas do mundo! A vovó que cheirava a sabonete e talco de flores e cultivava um jardim mágico onde tudo floria e verdejava o tempo todo. Ela tinha um tacho gigante de cobre onde esquentava a água que despejava na banheira para eu me lavar antes de ir para a aula. Nesse mesmo tacho ela preparava os doces de leite, as compotas e as caldas douradas. A vovó Geni tinha no quintal cachorro e goiabeira e macieira e pé de romã. No Natal, temperava o pernil mais suculento e promovia um mutirão ao redor de si que transformava trabalho em alegrias. A vovó Geni me contava, quando eu chegava da escola (que se chamava grupo escolar) que, pelo auto falante, me ouvira cantando muito lindamente a música que eu ensaiara o mês inteirinho!
Eu tive uma avó que escutava, pelo rádio, a Hora do Angelus e rezava pelas pessoas que amava. Ela tinha os sapatos e as roupas mais limpas da face da Terra e o alpendre mais brilhante. A Vovó punha forrinhos nos móveis e sobre eles, bibelôs. Tinha um chiqueiro que vivia limpinho e cheirava a creolina. Ela recebia as vizinhas, trocava receitas, conselhos e amizade: D. Clary, D. Zeca, D. Maria, D. Conceição das Vacas...
E pensar que, hoje em dia, as vovós pilotam motos, usam piercings e fazem pós graduação!


Foto: Acervo pessoal.